sábado, 14 de abril de 2012


ACUPUNTURA SÉRIA e DEMOCRÁTICA

A política médica que luta hoje no Brasil pela exclusividade da prática da
acupuntura já desqualificou a técnica nos mesmos tribunais. No final dos
anos 1960 a categoria médica posicionou-se contra a prática da acupuntura,
considerando-a charlatanismo.
Acupunturistas foram perseguidos, presos e acusados de curandeirismo pela mesma classe que hoje reinvidica exclusividade. 

Que profissão da área de saúde ocidental realiza esse tipo de avaliação?
Quando o Yin está fraco, o Yang torna-se demais potente e o vento interno se agita. A mucosidade-vento perturba o alto, suscitando vertigens e ofuscação da vista.
Quando a mucosidade vento penetra nos meridianos colaterais pode provocar hemiplegia, dores nos MMII e tamponamento das aberturas corretas, gerando perda dos sentidos, língua rígida e afasia

Que profissionais de saúde ocidental deveriam está qualificados para fazer acupuntura?

É muito simples, nenhum está qualificado a fazer este tipo de avaliação. 

Acupuntura deve ser realizada por ACUPUNTURISTAS quem tem conhecimento da racionalidade da MTC - Medicina Tradicional Chinesa.

No início dos anos 1970 o Conselho Federal de Medicina rejeitou
oficialmente a acupuntura e a reflexologia como atividades médicas.
O
Conselho de Medicina de São Paulo censurou publicamente o médico Evaldo
Martins Leite por praticar acupuntura, Naquela época, ainda que em outros
países a acupuntura estivesse sendo reconhecida e procurada como uma nova
ferramenta de trabalho por vários profissionais, entre eles os médicos, no
Brasil era uma vergonha ser médico e defender a acupuntura.

Os resultados práticos dos efeitos da terapia oriental eram inegáveis e
vários países foram envolvidos em estudos para testar sua eficácia sob os
paradigmas da pesquisa ocidental. Em 1977 o Brasil chegou a reconhecer a
acupuntura como ocupação profissional. A Organização Mundial de Saúde, na
mesma época, além de reconhecer, recomendava a prática.
 Os usuários surgiam, os profissionais acupuntores, vindos das mais variadas áreas de
saúde, se multiplicavam.

Médicos brasileiros, contrariando o CFM, começaram a fazer a formação com
o alemão naturalizado brasileiro Friedrich Jahann Spaeth na antiga sede da
Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1979. Spaeth, que era
fisioterapeuta, massoterapeuta e acupunturista formado na Alemanha, fundou
no Brasil, em 1958, a primeira instituição voltada para a prática da
acupuntura, a Sociedade Brasileira de Acupuntura e Medicina Oriental.
Antes dele, a acupuntura já existia nas comunidades chinesas desde 1812 e
nas japonesas desde 1895. Os imigrantes orientais usavam-na entre eles,
mas nunca se organizaram para difundi-la.

Em 1961 desembarcou no Brasil Wu Tou Kwang, médico cirurgião vascular, que
também passou a formar acupuntores, sempre defendendo a atividade como
democrática, multidisciplinar, barata e eficaz. Na mesma década vieram os
coreanos trazendo uma acupuntura diferente da japonesa e da chinesa.
Enquanto isso, nos Estados Unidos, o psicólogo Reuben B. Arnber, aluno de
acupuntura de Wu Wei Ping, iniciava uma jornada política pela
regulamentação da acupuntura.

Mesmo sem apoio do Conselho Federal de Medicina, mais médicos passaram a
frequentar cursos de acupuntura. A terapia oriental funcionava, eles
podiam atestar, fervilhavam as pesquisas com revelações surpreendentes
sobre o uso e a eficácia da técnica das agulhas. Politicamente era um
problema a acupuntura ser lecionada por não-médicos, a autoridade
principal do assunto não ter formação médica. Em 1980, pelo fato de não
ser médico, Frederich Spaeth foi destituído da presidência da Associação
Brasileira de Acupuntura pelos seus ex-alunos médicos. No raciocínio
político, os médicos precisavam assumir a técnica, agora que ela era
respeitada pela ciência.

Banir os papas da acupuntura no país significava
desvincula-se da idéia inicial, produzida pelos próprios conselhos de
medicina, de que era charlatanismo. Perversão pouca é bobagem na corrida do ouro.

Em Recife em 1981, no I Congresso Brasileiro de Acupuntura, a
manifestação de repúdio aos profissionais tradicionais de acupuntura por
parte de médicos corporativistas tomou forma oficial e em 1984, em outro
congresso da categoria, em Brasília, os médicos separaram-se oficialmente
dos demais acupuntores para fundar a SMBA- Sociedade Médica Brasileira de
Acupuntura.

Quatro anos depois o médico-deputado paulista Antonio Salim Curiati deu
entrada ao projeto PL852/88 a favor da prática multidisciplinar da
acupuntura. No mesmo ano a CIPLAN, comissão interministerial de
Planejamento, após se reunir exclusivamente com representantes da SMBA,
baixou resolução normatizando o emprego da acupuntura nos serviços
públicos médicos assistenciais, restringindo a prática apenas para
médicos.

Em 1991, uma resolução em assembléia da OMS recomendou a intensificação de
cooperação entre as medicinas tradicionais e a científica moderna, com
medidas reguladoras dos métodos de acupuntura. O PLC Nº383/1991 para
regulamentação da acupuntura foi aprovado, inclusive por todos os
conselhos de medicina.Não durou muito o aparente sossego.

Em 1993 a Secretaria Nacionalde Vigilância Sanitária publicou um relatório com recomendação de que a acupuntura fosse monopolizada pela classe médica.  O seminário,que resultou na recomendação, foi composto por 12 médicos da SMBA, 2 médicos a favor dos acupunturistas de outras formações e um profissional não-médico.

Os médicos Wu Tou Kwang e Evaldo Martins Leite recorreram ao senador
Valmir Campelo convencendo-o a mudar de opinião e democratizar a
regulamentação para todos os profissionais da área saúde. Um
abaixo-assinado contra o monopólio médico da acupuntura, com 45.000 nomes,
sendo 300 de assinaturas de médicos, foi enviado ao Senado.
Em 1997, uma nova manobra com emendas em plenário dos senadores médicos
Lucídio Portela e José Alves tentou restaurar o monopólio da acupuntura
para os médicos.

Depois de muitos imbróglios, foi derrotada e a acupuntura
se fortaleceu como profissão da área de saúde, respeitando suas origens
não-médicas, podendo ser praticada por assistentes sociais, terapeutas
ocupacionais, biólogos, profissionais da educação física, biomédicos,
enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, médicos,
médicos veterinários, nutricionistas, psicólogos e odontólogos.

Entre os anos 1980 e o final dos anos 1990, segundo dados publicados no
Journal of the American Medicine Association, as chamadas “terapias
alternativas” cresceram de 7% para 47% e a previsão era de que
continuassem em elevação. No judiciário brasileiro somavam-se processos
contra o exercício ilegal da medicina por acupunturistas não-médicos. O
acesso ao livre exercício da profissão por outras categorias da área da
saúde enfrentava atos arbitrários sucessivos do Conselho Federal de
Medicina.

As organizações pró-acupuntura multidisciplinar foram crescendo e se
fortalecendo política e praticamente, já com base em evidências
científicas, o que é raro nas terapias alternativas. Ainda em 1998,
cientistas na Universidade da Califórnia comprovaram por meio de
ressonância magnética que os pontos da acupuntura estavam mesmo ligados a
importantes órgãos internos e funções do corpo. Era ciência, uma ciência
caindo nas mãos de seus próprios criadores e eles faziam com ela o que bem
quisessem, até formavam profissionais não-médicos! Foi um momento
desesperador para os médicos corporativistas.

Em 1999, ano de muito crescimento em pesquisas, fundações de instituições
e popularidade da acupuntura, cresceram os debates. Nesse ano estimou-se
que 5.000 médicos e 20.000 profissionais de outras áreas da saúde faziam
uso da acupuntura.

Em 2000 um grupo de médicos brasileiros enviou relatório ao
Senado afirmando que na China, berço da acupuntura, ela era lecionada
exclusivamente em escolas médicas. Não deu certo: num lance digno de
profissionais éticos, o diplomata Affonso Celso de Ouro Preto, embaixador
do Brasil na China, enviou carta ao Senado afirmando que, na China,  “a
acupuntura é uma atividade socialmente independente da medicina alopática
ocidental”
, sendo regulada pela Secretaria Nacional de Administração da
Medicina Chinesa, sem qualquer ligação com a medicina alopata clássica.

Em 2000, após o arquivamento da tentativa de monopólio da acupuntura pela
classe médica no Senado, a Sociedade Médica Brasileira de Acupuntura
lançou a campanha com a pergunta – “Meu acupunturista é médico, e o seu?”
— que induzia o eventual usuário a duvidar da capacidade dos
acupunturistas vindos de outras áreas da Saúde.

E assim, nesse ritmo, continuou nos últimos 12 anos. A briga contra o
exercício da acupuntura por outros profissionais da saúde é a mesma velha
briga da medicina por mercado, por vaidade, por poder, por medo de perder
o poder, como fica claro nessa breve e resumida história sobre a batalha
particular entre médicos corporativistas e todos os outros profissionais
de saúde que foram surgindo ao logo da história por consequência natural,
e podemos afirmar, por ciência, derrubando crenças médicas.
A guerra de hoje é a mesma que atravessa séculos contra o exercício pleno
e legítimo do trabalho das parteiras, das enfermeiras. A mesma que levanta
piadas contra o trabalho dos psicólogos, dos terapeutas, a mesma luta
covarde contra os direitos dos profissionais da fisioterapia, dos
optometristas.

Não surpreenderia tanto se esses profissionais da medicina não fossem tão bem
formados, tão bem treinados em incontáveis horas de estudo e treinamento
técnico. Fica difícil compreender como profissionais de alto gabarito
podem usar de estratégias e manobras políticas tão baixas, idênticas às
que utilizavam na Idade Média.

O espírito competitivo, predador e excludente dos representantes oficiais
dos médicos no Brasil ainda levará a categoria inteira para o fundo do
poço, o mesmo velho poço que tem servido para sepultar todos aqueles que
ao longo da história da medicina foram acusados de charlatões.
Por Cláudia Rodrigues
Postado no Blog Saúde Brasil em 01/04/2012