domingo, 26 de abril de 2020

Não busquemos a verdade, apenas paremos de cultivar opiniões, pois somos todos UM.












                                                                                                           Por Leonardo de Paiva


Simplesmente , deixar fluir..., deixar de lado a identificação mental. Assim quem nós somos, além da mente, emergirá por si só. 




Quanto mais inconscientes estivermos, nós indivíduos, grupos sociais, nações, países... maior a probabilidade de que o egoísmo assuma a forma da violência, que é um dos mais primitivos recursos de busca da sobrevivência.


O ego coletivo se estrutura a partir do individual, que vai formando uma massa crítica, adotando um comportamento coletivo, que tende a seguir o que pensamos e agimos individualmente. 

Isso é a uma das causas maiores do sofrimento humano, como mostram os momentos da história como: a "Santa" Inquisição, as duas guerras mundiais, a guerra fria, o Marcartismo dos anos 50 nos Estados Unidos, o Comunismos totalitário, os conflitos no Oriente Médio e todos os eventos mundiais de extremos egoístas e paranoia coletiva.


A paranoia é exatamente a forma mais exagerada da expressão do ego. Consiste de uma história ficcional, que a mente elabora para dar conta de um medo, uma insegurança. 

Normalmente, o objeto maior de atenção do paranoico é uma crença de que existe um complô contra a sua pessoa ou contra um grupo social a que ele pertence, e é nessa certeza de conspiração que, normalmente,  emerge uma "coerência" e uma "lógica ficcional", que leva, cada vez mais pessoas a acreditarem, se identificarem e se incluírem, como vítimas dessa "conspiração", formando uma massa crítica que leva a um comportamento coletivo. 




Estes mesmos elementos, individualmente ou coletivamente, de forma paradoxal, precisam das pessoas, de aceitação, e aí o dilema se instala, fato este muito bem definido por Jean-Paul Satre, quando diz: "O inferno são os outros". 

Essa frase de Satre é uma verdadeira definição da ação egoística nas nossa vidas, onde, ao mesmo tempo, queremos aceitação, parcerias e paradoxalmente, temos constantemente a impressão de traição, complô... e ai nos retraímos e reagimos, muitas vezes violentamente.

Quando sofremos desse mal, nos sentimos no inferno, e as chances de levar esse inferno a quem está ao nosso lado é imensa, mas é claro que somos incapazes de perceber isso. Sempre são ELES, os outros, que parecem estar nos fazendo o mal.





O ego adora o ressentimento que alimenta, cotidianamente,  a nossa paranoia contra a realidade da vida. Neste sentido, causamos sofrimento a nós mesmos e aos outros, muitas vezes sem consciência disso. 

Fazemos exatamente o que condenamos nos outros, usamos negação irada, distorcemos fatos, pois a razão é sempre nossa e a vítima, sempre nós. 


Grupos sociais, esportivos, religiosos, governos podem agir assim. No instante em que todos os recursos e justificativas falham, o ego recorre aos gritos e à violência física. 

Parte-se para agressão, críticas e acusações. O indivíduo ou a massa de uma coletividade interagente e com unidade por crenças, ideias, valores , se sentido ameaçados, partem para agressões, gritos... 

Até as "mulheres e homens santos", gurus, sacerdotes mobilizam seus fieis à violência, contra quem está "do outro lado", fora da "verdade". 

Os governos, em nome da Pátria, enviam os soldados, os covardes, sob o manto do anonimato, criam e divulgam as fakes news, instando o ódio e difamando rivais.

Para darmos fim a esta onda de agressões e sofrimentos, que vêm afligindo a humanidade há milênios, precisamos começar pela unidade, nós mesmos. 

E como fazer isso?





 Podemos iniciar com esta reflexão:  

"Estou dando conta de que estou vivendo, cotidianamente, o negativismo e negacionismo?" Daí é prestar atenção às nossas emoções e sentimentos...

Observar nossos medos, inseguranças, as nossa principais críticas aos OUTROS, os nossos descontentamentos e irritações. 

É importante ter em mente que constatar isso não é, absolutamente, um fracasso de nossa parte, é sim o início de um bom caminho.

No momento em que identificamos estes pensamentos, emoções e reações, é o início do fim das nossas identificações. Começa ai a nossa percepção do eu, de quem somos; passamos então, por uma mudança, começamos a testemunhar as nossas vidas, com presença. 


Neste momento, os pensamentos passam a ser despersonalizados pela consciência, o Eu deixa de existir e passamos a ter a consciência de que somos mais profundos de que qualquer pensamento e emoção.

Quando conseguimos atingir este estágio, aproveitaremos melhor os momentos de liberdade do ego,  e gradativamente, sem mesmos percebermos, vamos ficando livres de pensamentos paranoicos, e nossas atividades cotidianas passam a ser uma verdadeira prática vivencial  espontânea, livre de dogmas, amarras e preconceitos...




Vislumbraremos uma nova vida. 

Em seguida, virá a reconciliação; o propósito supremo dessa mudança vai muito além de tudo o que a mente consegue imaginar. 

O conceito "minha própria vida" passa a ser uma verdade relativa, pois pelo que parece, em última análise, não deve existir nada como "minha", "sua" ou "nossa" vida, uma vez que, somos todos UM.




Leonardo de Paiva

segunda-feira, 6 de abril de 2020

A “COVID -19” foi, literalmente, um convite para uma profunda reflexão




Um "COVIDE 19" para reflexão


Na antiga história grega, "felicidade" era definida como um estado de alma, onde a realidade menos as expectativas era o que lhe definia, da melhor forma. A felicidade era considerada a máxima virtude, mas algo não permanente; era viver a vida em harmonia e não no sentido intenso. 

Nesta perspectiva, felicidade não era estar sempre apaixonado nas relações, nem estar livre de tristezas e adversidades.


Muito recentemente, vivemos algo inédito nas nossas casas, comunidades e no mundo. Fomos obrigados a nos colocar segregados, em espaços restritos, e nos percebemos compelidos ao uso intensivo da comunicação virtual, pela impossibilidade segura da convivência física com os nossos semelhantes, sentindo-nos com isso, "solitários e muitas vezes infelizes". 


A solidão, sem remédio, tornou-se um desespero, alimento da infelicidade e do medo. Fomos obrigados a nos despojar do que temos de mais precioso, o convívio e a afetividade natural, de quem amamos e com quem nos sentimos bem. 


Nesse sentido, a Covid -19 foi mais do que uma advertência foi uma reflexão, nos colocando frente à frente com fantasmas, que já existiam mas não eram percebidos, pelo nosso cotidiano agitado, pela cegueira para com as intolerâncias, as injustiças sociais, o desrespeito ao meio ambiente e para com a vida...  

Isso tudo, nesta nova conjuntura, pode revelar-se e passou a ser amplificado, afetando dramaticamente, o nosso cotidiano, tenhamos bens materiais ou não, tenhamos poder ou não. 

Os desgastes físicos e mentais passaram a ser insuportáveis: agravou-se a fome, o medos, a solidão; notícias de mortes, informações de prognósticos nefastos e irremediáveis vão nos levando as sensações de pânico e angústia. 

Surgiram taquicardias, dores, apatia, e a polarização de pensamentos e ideologias divergentes, agravaram as intolerâncias... 

Houve por muitos, a busca de ajuda terapêutica, mas o terapeuta também tinha família, medos e tinha de enfrentar a demanda do isolamento social, como forma de proteção individual e de sua família.  Com isso surgiu em muitos a percepção: “Estou só”, o que fazer?


Segundo um pensador indiano, Osho, “A capacidade de estar sozinho assemelha-se a capacidade de amar, isso pode parecer paradoxal, mas para Osho não é. 

Osho diz que essa seria uma verdade existencial, "a solidão é ausência do outro e a solitude é sua própria presença”. 

Para este pensador indiano, viver a solitude permite ao outro a liberdade absoluta, pois saber que se o outro for embora, ambos serão tão felizes, como são nas suas companhias, isso seria libertador e traria felicidade.  


Segundo Osho, a felicidade de cada ser  não pode ser tirada pela falta do outro, porque não foi dada pelo outro. Somente pessoas que são capazes de estar a sozinhas, são capazes de amar, em toda sua plenitude, de compartilhar, de ir no mais profundo âmago da outra pessoa, sem possui-la, sem se tornar dependente do outro e sem ficar viciado no outro.

Teria sido aquele período da pandemia, um momento de experimentarmos a solitude, decantada por Osho, e com isso crescermos como humanos "livres e felizes"? Não sei.  

Além dessa possibilidade de experienciar, na prática a solitude, aquele período foi um momento único nas nossas vidas para reflexões profundas, desenvolvimento da empatia, respeito à vida e ao planeta, e deveria ter sido muito bem aproveitado para nosso crescimento como “Seres Humanos”.  


Acredito que nas situações de emergências, como aquela que experimentamos, em que o direito à vida, ao alimento, até mesmo ao oxigênio, por falta de equipamento médico, foi uma realidade, seria fundamental o afastamento do ego, da ideologia partidária egoísta, deveríamos ter olhado mais para o nosso entorno, e para o que nos caberia refletir e operacionalizar nas nossa vidas. 


Hoje então, movidos pelo que vivemos, nos cabe olhar mais para o lado, apoiar os nossos familiares, amigos, funcionários, auxiliares, vizinhos, conhecidos, que estiverem em situação de vulnerabilidade. Essa deve ser uma lição aprendida. 


Aspectos como: a valorização dos serviços públicos essenciais, da pesquisa científica, da educação pública universal, das políticas públicas de redução da desigualdade social, da proteção ao meio ambiente, devem se tronar mais tangíveis e prioridades a serem cobrada dos nossos governantes e legisladores. 

Com isso nos integraremos, mais harmonicamente, a estes grandes organismos vivos, a Humanidade e o  Planeta Terra, estabelecendo um ambientes desfavorável a novas “Covit-19”, a posturas intolerantes e agressivas, promovendo uma ambiente físico e social mais  favorável ao nosso crescimento interior e a "felicidade".




 Leonardo de Paiva