sexta-feira, 11 de abril de 2014

Neurônios Espelho, rivalidade mimética e a teoria do bode expiatório



Uma reflexão sobre a necessidade de uma volta de 180º, na busca da harmonia familiar e social  
O compartilhamento de experiências é o melhor e mais eficiente caminho para cura, aprendizagem e harmonização sistêmica.    
                   
 
Por Leonardo de Paiva 

                                                                             http://unat-aban.blogspot.com.br/p/leonardo-paiva-curriculo.html





Essas células especiais, NEURÔNIOS ESPELHOS foram descobertas por acaso em 1994, na Universidade de Parma, Itália, pelos neurocientistas Giacomo Rizzolatti, Leonardo Fogassi e Vittorio Gallese.   

Eles constataram que a simples observação de ações alheias ativava as mesmas regiões do cérebro dos observadores.

A prática de atividades corporais como artes marciais, yoga, dança, em grupo, com compartilhamento de experiências sensitivas e visuais, podem ser grande instrumento de apropriação de valências físicas, coordenação motora , equilíbrio, mudanças de comportamento pelo exemplo. Isto também é verdade para nos apropriarmos de novas competências .

Outro grande exemplo de aplicação dos neurônios-espelho é através dos instrumentos terapêuticos de Psicodrama e das Constelações Familiares, onde o vivenciar a partir do olhar fora, geram mudanças internas.


Os neurônios-espelho têm despertado o interesse de um número cada vez maior de médicos, fisiologistas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos, professores de dança, yoga, artes marciais, que lidam com alunos e pacientes sequelados  por traumas físicos, emocionais, paralisia cerebral, acidente vascular cerebral (AVC).
  
Tais sequelas costumam ser minimizadas, graças à fisioterapia, a atividade física bem conduzida, terapia ocupacional, medicamentos e a plasticidade cerebral, fenômeno em que regiões próximas à área lesionada, pouco a pouco, vão assumindo as funções comprometidas. No entanto, essa recuperação depende de um duro e constante tratamento terapêutico, psicológico e médico, durante longo tempo.

O aprendizado de novas competência que demandem coordenação e habilidades motora também podem ser potencializados a partir dos conhecimentos de como funcionam os neurônios espelho.

Outro seguimento de aplicação dos conhecimentos dessa descoberta é na terapias comportamental, que pode ser muito bem explorado na melhora nas relações pessoais através das Costelações Familiares e Psicodramas, onde a observação de outros no seu papel social, pode gerar grande mudanças e harmonizações comportamentais.

A partir da descoberta dos neurônios espelho criou-se a expectativa de que a observação do movimento antes de executá-lo e a  execução lenta e consciente do movimento seria um aquecimento neuronal, indutor da plasticidade neuronal e da aquisição da competência, facilitando e acelerando a aquisição ou reaquisição dos movimentos com habilidade e competência inconsciente.

Com base nessa hipótese foram desenvolvidos, no Hospital Universitário de Schleswig-Holstein, em Lübeck, Alemanha, diversos estudos e um programa de reabilitação de pacientes cujas regiões corticais motoras haviam sido lesionadas por AVC. Primeiramente, os participantes assistiram a um filme de seis minutos, que mostrava uma sequência de movimentos, em seguida, cada paciente tentava imitar o que acabara de ver, a fim de consolidar a representação da sequência no córtex.

Depois de 40 dias de fisioterapia, foi observado que a habilidade motora dos participantes melhorou, muito mais rápido, do que a dos indivíduos do grupo de controle, que faziam a mesma fisioterapia, mas não assistiram a vídeo algum, como estratégia de ativação dos neurônios espelho.

Com a continuação destes estudos foi identificado que nem a observação da ação, nem o ambiente isolados, ativaram os neurônios-espelho, tão intensamente, quanto a combinação de ambos (observação do movimento e a intenção do movimento, como exercício mental), trazendo grande evidência de que os neurônios- espelhos também são capazes de identificar a intenção. Por exemplo, levantar uma xícara da mesa, com a intenção de tomar chá, ativava uma área do cérebro, tanto do observador, como de quem faz o movimento, diferentemente da ação de levantar uma xícara, para retirá-la da mesa, com a intenção simples de levantá-la.

                                                                                                             Fonte: R.D. Newman-Norland e colaboradores (2007)

Partindo deste pressuposto, de que a resposta neurológica espelhada sofre influência tanto da ação com da intenção, consideramos fundamental a combinação de técnicas e exercícios que contemplem concomitantemente, estes dois aspectos.

No âmbito da artes marciais a prática e observação da movimentação lenta e intuitiva é um dos grande instrumento de prevenção de doenças neurológicas degenerativa e tratamento de sequelas dessas desarmonia neurológica. Promovendo um fluxo de pensamentos e movimentos rápidos precisos e eficazes. Sendo um dos grande exemplos da teoria dos Neurônios Espelho.

 Abaixo sugerimos um vídeo com exemplos da prática de arte marcial associando a intenção com a visualização lenta do movimento de defesa, desenvolvendo estas características neuronais, baseadas no principio do Neurônio espelho:






Espelhamento emocional, psicoterapia, constelação sistêmica

Acreditamos que o “espelhamento emocional” tem efeito semelhante ao “cinesiológico” e daí então ser importante promover o consórcio das terapias de estímulo neurológico sensitivos, motores, olfativos, proprioceptivos, associadamente aos estímulos emocionais de grupos terapêuticos de compartilhamento de emoções e decisões, como um grande instrumento de resoluções de conflitos e dificuldades físicas, emocionais e sociais.


É importante destacar que consideramos a doença o primeiro passo no processo de cura, pois, conhecendo a razão dos sintomas, chegaremos à raiz comportamental da desarmonia.
Na visão biomédica ocidental, a genética tem um peso muito grande na predisposição à determinada doença. Esta predisposição pode ser congênita ( ALH - Antígenos dos Leucócitos Humanos) ou adquirida (mutação cromossômica).

Na perspectiva das Medicinas Tradicionais Orientais, como a Indiana e a Chinesa, a doença é uma desarmonia que tem como objetivo maior nos alertar sobre um obstáculo para a realização do caminho da vida em harmonia.  Desta forma, a essência do organismo exprime por meio de problemas ligados ao fluxo de energia o que anda errado nas nossas vidas e precisa de um reajuste.

Essas duas visões, a biomédica e a das medicinas orientais, não são necessariamente incompatíveis, sobretudo por que sabermos, por provas científicas, que o estresse patológico pode gerar alterações cromossômicas. É por este motivo que, apresentando exatamente o mesmo terreno genético, um indivíduo pode manifestar uma doença herdada, enquanto o outro permanecerá são.

Outra aplicação dos conhecimentos de neurônio espelho é na Constelação Familiar ou Sistêmica de Bert Hellinger.



Na Constelação Sistêmica situações podem ser observadas com uma visão "de fora", ativando os neurônios espelho, promovendo assim, um estimulo às mudanças comportamentais, além da terapia pela harmonização de campo morfo-genético, explicado por Hellinger.


O Método TACAI – Terapia Acupuntural e Alquimia Integrados, (http://unat-aban.blogspot.com.br/p/metodo-tacai.html) que desenvolvemos na UNATE – Universidade Aberta do Terapeuta, faz exatamente o consórcio de estratégias que envolvem estímulos neurológicos, observação e compartilhamento de ação, intenção, resolução de dúvidas, dificuldades e conflitos, utilizando as terapias tradicionais orientais, terapias do movimento, respiração, meditação, estímulos através da PNL – Programação Neuro Linguística, Constelação Familiar, Terapia de Reprogramação TACAI,  além  de técnicas de harmonização de campo mórficos e eletromagnético, visando contemplar toda capacidade regenerativa do “Ser” e do seu grupo de reverberação, nos seus sistemas familiar e social.

A terapia  TRT, com as micro esferas de cristais de silício foi a técnicas que mais nos surpreendeu, positivamente, na ativação dos neurônios espelho e no processo de regeneração e resignificação de situações traumáticas, principalmente, nos casos de traumas emocionais.
Sugerimos que leia um pouco mais sobre a TRT em :


Sugerimos que para melhor compreensão assistam os vídeos que explicam melhora a técnicas: TRT - Terapia de Reprogramação TACAI

Rivalidade Mimética

Aproveitaremos esta reflexão sobre neurônios espelho e suas aplicações nas ferramentas terapêuticas do Método TACAI, para adentrarmos em um conceito de comportamento que tem prevalecido nos tempos atuais, a Rivalidade Mimética.

Pode-se defini-la como: Uma teoria que busca compreender como a capacidade humana de imitar – ou reproduzir ou copiar qualquer estímulo, padrão ou reação – somente impulsiona ainda mais o desejo humano, com destaque para os seus aspectos competitivos, introduzindo em todas as áreas da vida humana um princípio de rivalidade, conflito e violência.

René Girard, historiador, antropólogo e crítico literário francês, conhecido por ter sistematizado o que chamou de Teoria Mimética, percebeu, através do estudo de autores como Shakespeare, Cervantes e Dostoiévski, que o ser humano é mimético – daí o nome teoria mimética, que, resumidamente, seria desejar a partir do desejo alheio.

Esta teoria estuda e tenta entender o porquê do ódio generalizado, dos linchamentos e até mesmo a razão de muitas das manifestações políticas

René Girard em meio a suas pesquisas sobre as obras de autores como William Shakespeare, Fiódor Dostoiévski e Miguel de Cervantes, notou que havia alguns pontos que os conectavam de forma surpreendente. Como autores tão distantes poderiam dialogar sobre um mesmo tema de maneira tão semelhante? Lhe restou refletir que aquilo que os unia era uma mesma compreensão da natureza humana. Esses autores perceberiam o que o ser humano deseja mediante inveja e que, devido a esse desejo, constantemente se envolve em rivalidades, que em sua grande maioria terminam em tragédia.

A teoria do desejo mimético, embora tenha sido sistematizada por René Girard, aponta para algo intrínseco ao gênero humano, ainda imperfeito, no seu processo evolutivo.


Podemos complementar esta reflexão falando um pouco da Teoria do Bode Expiatório.

Bode expiatório este é um termo da psicologia social que se relaciona com o preconceito. Segundo esta teoria, as pessoas podem ter preconceito contra um grupo, a fim de desabafar sua raiva. Em essência, elas usam o grupo que não gostam como alvo para toda a sua raiva … como um respiradouro.

Este comportamento social é o que está se evidenciando com muita ênfase nos últimos tempos no nosso país e em todo o mundo.

Um exemplo deste comportamento pode ser claramente evidenciado no holocausto, onde os alemães usaram os judeus como bodes expiatórios, para todos os seus problemas econômicos e sociais, deixando fluir sua raiva e ódio. Algo semelhante vem ocorrendo em nossos tempos com as Fake News, promovendo o ódio e polarizações políticas e sociais.

Mas do que nunca é hora de pararmos e refletirmos na importância de entendermos todos esses fenômenos sociais e encontrarmos vias de saída, que promovam o caminho contrário, como as ordens do amor divulgadas e sistematizadas pelo criador das constelações familiares Bert Hellinger.

 


Texto de Leonardo de Paiva, diretor da UNATE – Universidade Aberta do Terapeuta. Ph.D em Medicina Taoista, Pós graduado em Fisiologia Humana, Educação e Antropologia Médica. Fisioterapeuta, fisiologista, paramédico e acupunturista.

http://unat-aban.blogspot.com.br/p/leonardo-paiva-curriculo.html


Referencias:
Neural circuits involved in the recognition of actions performed by nonconspecifics: an fMRI study. G. Buccino et al., em Journal of Cognitive Neuroscience, vol. 16, nº 1, págs. 114-126, 2004.

The role of the mirror neuron system in neurorehabilitation. Binkofski F. et al., em Neurological Rehabilitation, vol 10, págs. 1-10, 2004.

 
G. Di Pellegrino e colaboradores (1992) Understanding motor events: a neurophysiological study. Experimental Brain Research, vol. 91: pp. 176-180. 


P.D. McGeoch e colaboradores (2007) Apraxia, metaphor, and mirror neurons. Medical Hypotheses, no prelo [divulgação eletrônica prévia]. 


R.D. Newman-Norlund e colaboradores (2007) The mirror neuron system is more active during complementary compared with imitative actions. Nature Neuroscience, vol. 10: pp. 817-818.