quinta-feira, 8 de novembro de 2018

O que fazer quando a exclusão, a violência e os preconceitos nos rodeiam


                                                                                                  Texto de Leonardo de Paiva



Vivemos momentos difíceis no Brasil e no mundo. Exclusões, corrupção, interesses escusos, injustiças, mentiras, riscos de conflitos armados, destruição ambiental, regressão nos direitos coletivos, tudo isso por interesses financeiros, oligárquicos e sede de poder. 

E ai, como se posicionar?, ou não se posicionar, tornando-se um alienado, conivente ou omisso?

Acredito que nas situações de emergências, onde o direito está sendo vilipendiado abertamente e em público, é fundamental a ação, o socorro imediato das vítimas das injustiças e exclusões, se valendo da massa consciente que estiver ao nosso lado e dos direitos individuais, que ainda resistem.


 

Já quando se trata das tentativas de trazer uma reflexão sobre o que é justo, sensato, humanitário ...  às vezes  não é possível se fazer entender, quando simplesmente não se enxerga ou não se quer enxergar. Acredito que, nestes casos, não necessariamente, se trata de pura maldade, pode ser apenas o outro, em um foco egocêntrico, ainda não desperto para a importância do bem coletivo.  

Muitas vezes não adianta nem querer explicar que pessoas estão sendo excluídas, arrancadas dos seus mais íntimos e justos direitos. Não adianta falar em princípios básicos de justiça e deveres, enquanto se está olhando só para o próprio umbigo, para os interesses individuais ou se está externando sentimentos mesquinhos e preconceitos, que estavam guardados e oprimidos e agora encontram espaço e suporte para expressá-los.

Nestes casos de inconsciência momentânea, não há argumentação que possa ser ouvida, nada demoverá aquele ser das suas opiniões e comportamentos excludentes e preconceituosos, nos restando nestes casos apenas sermos exemplo da mudança que desejamos ver no mundo, pois passa por uma questão básica, estar desperto ou não, para esse direito coletivo



Não se impõe a consciência de justiça, do direito coletivo, ela vira, mais cedo ou mais tarde, obrigatoriamente, isso é evolução, poderá ser pela dor ou pela natural tomada de consciência. Disso não se escapa, é a lei natural da coisas, mas enquanto isso não acontece existe também a lei dos homens e podemos nos valer dela, em socorro dos menos privilegiados e vitimizados pela fúria e preconceitos dos agressores, poderosos, violentos, não despertos para esta Consciência do Todo.

O filósofo Peter Pál Pelbart já dizia em uma de sua mais recentes crônicas  "O Brasil é um país construido em bases violentas... . Um país que anistiou torturadores, fingiu que a ditadura nunca aconteceu e que não se sente responsável em fazer reparação pelos males impostos pela escravidão".  Agora simplesmente caíram as máscaras, há uma autorização tácita para a expressão dos preconceitos e violências que pulsavam latentes. 

Não posso deixar de refletir também que esta situação da expressão verdadeira das pessoas pode ser considerada e vista claramente, sem máscaras; é  um  lado bom desse momento, pois os preconceitos, ódios e egoísmos saíram das sombras e foram expostos à luz e se revelam claramente, podendo  ser  suscitadas as reflexões e subsequentes transformações, inclusive pela dor de quem cultiva tanto ódio, preconceitos, egoísmos... O lado ruim é que isso gera muito sofrimento e dor a quem está do outro lado dos preconceitos e ódios: pobres, negros, índios, gays, apátridas...






Hoje, reflito sobre a perspectiva de que existe, sim, o mau consciente e intencional, o preconceito e a raiva por ver os excluídos de tantos anos no Brasil, terem momentos de inclusão e direitos: demarcação de terras indígenas e quilombolas, que lhe foram usurpada durante a colonização europeia; direito à liberdade, a alegrias, direito a um lar, aos estudos superiores... mas pode haver também a pura inobservância do outro e do coletivo por puro e simples egoísmo, e em ambos os casos, o trabalho de se convencer através do argumento e dialética pode ser absolutamente ineficaz , pelo simples fato dessas pessoas não conseguirem olhar para isso, pois ainda não faz parte da sua natureza esta consciência do coletivo, elas entendem apenas no nível de percepção das satisfações de suas necessidades e interesses individuais.


Acredito também ser natural que uma pessoa recém desperta para o bem coletivo tenha o desejo de abrir os olhos de quem está ao seu redor, através da dialética, da conversa respeitosa, mas me parece que uma forma mais eficaz de contribuir com essa tomada de consciência, em pessoas resistentes a estas mudanças, é sustentando a sua presença e sendo exemplo; não há necessidade de desprender energia em longas argumentações, pois cada um tem a sua hora. Muitas vezes não precisa se quer abrir a boca, basta se manter consciente e coerente, às vezes isso vale muito mais neste processo de formar uma massa crítica de consciência. Falar só quando existem ouvidos para ouvir, isso pode ser uma boa alternativa para contribuir com estas mudanças coletivas.


A simples presença de uma pessoa "desperta" para a visão do coletivo pode ser capaz de tornar-se portal de transformação para aqueles que estão em processo de despertar. 

Desta forma, ao invés de fugirmos das influências negativas do mundo, alienando-se ou digladiando-se em polaridades antagônicas infindáveis e pouco proveitosas, vamos impactar positivamente com exemplos, esses ambientes e ser para essas pessoas, que estão susceptíveis ao processo de transformação, uma reflexão palpável,  um "neurônio espelho". 

Neurônio espelho:
https://unat-aban.blogspot.com/2014/04/neuronios-espelho.html



Pode ser que fazendo a nossa parte e sendo a mudança que desejamos ver no mundo, consigamos elevar a consciência do direito coletivo, através do exemplo, suscitando com isso um novo paradigma! Justiça social, bem comum, respeito ao diferente e aí, quem sabe, possamos contribuir com a grande mudança coletiva.

Espero que sobrevivamos a este momento no Brasil, mas insisto, na emergência das injustiças não podemos ser omissos, temos que agir efetivamente na proteção e auxílio dos injustiçados e excluídos e quando existirem ouvidos para ouvir, devemos nos colocar com as ideias de inclusão , respeito e visão integral de mundo.

Leonardo de Paiva

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